Neurônios espelho, Física Quântica, campos mórficos e Constelações Familiares
por Idris Lahore
Idris Lahore, com uma rica experiência de mais de 30 anos, a originalidade de sua abordagem apresenta uma síntese entre suas próprias fontes tradicionais do Oriente Médio e os trabalhos mais importantes dentro do campo sistêmico, em particular os de B. Hellinger, I. Sparrer e M.V. Von Kibed, assim como de uma integração de seus conhecimentos das práticas psico-corporais e das novas psicoterapias energéticas, das quais ele é um dos pioneiros.O fenômeno fundamental no qual as Constelações Familiares se baseiam é o fenômeno das percepções dos representantes. Essas percepções se manifestam nos representantes que são escolhidos pelo cliente para representá-lo e também representar certos membros de sua família.
Nós não iremos discutir a realidade deste fenômeno, que não pode mais ser questionada a não ser por pessoas que não o experienciaram ou em críticas dogmáticas e teóricas. Nós iremos tentar mostrar como o pensamento atual da Física Quântica e da Neurobiologia, assim como da Psicologia e da Teoria dos Campos, podem nos levar a hipóteses a respeito de fenômenos que são aparentemente incompreensíveis, mas que, entretanto, foram observados milhares de vezes no decorrer de Constelações Familiares. Talvez isso possibilite muitos consteladores a superar suas inseguranças a respeito de suas experiências práticas e também de suas práticas clínicas enquanto terapeutas. Estamos cientes de que nossa reflexão é de natureza metafórica.
Vamos iniciar relembrando, resumidamente, a prática das Constelações Familiares. O cliente apresenta seu problema ao constelador (um facilitador, terapeuta ou conselheiro, por exemplo) que decide quais pessoas do sistema familiar do cliente devem ser constelados (colocados em um determinado espaço). É claro que não é possível colocar todos os membros de seu sistema familiar, uma vez que seriam muitos, o constelador coloca os membros mais importantes conectados ao problema que o cliente apresentou.
Dentre as pessoas presentes, o cliente escolhe os representantes colocando-os, de acordo com suas sensações, em relação uns aos outros no espaço definido.
O que então toma lugar é algo tão estranho e surpreendente quanto interessante: os representantes começam a ter sensações, emoções, pensamentos e até impulsos de se mover ou falar que genuinamente correspondem à situação relacional e psicológica das pessoas que eles estão representando: um membro (falecido ou não) do sistema familiar do cliente. Esses representantes não sabem nada ou praticamente nada sobre a vida das pessoas que eles representam. Eu gostaria de enfatizar especialmente o fato de que os representantes não possuem (ou praticamente não possuem) nenhuma informação (detalhada ou explícita) sobre as pessoas que eles estão representando. Apesar disso, as percepções dos representantes, surpreendentemente, guiam o constelador até uma (melhor) solução ao problema apresentado pelo cliente, não apenas para benefício do cliente mas também beneficiando todos os membros do seu sistema familiar que estão conectados ao problema.
É como se as pessoas consteladas (posicionadas) nesse novo sistema representativo estão entrando em contato, em ressonância, com o sistema familiar do cliente, e são capazes de fazê-lo apesar da distância espaço-temporal. O biólogo Rupert Sheldrake chama isso de ressonância mórfica. No contexto dos trabalhos de Constelações, eu me refiro a esse fenômeno como ressonância morfo-sistêmica.
Inspirados pelo embriologista alemão Hans Driesch, os renomados cientistas Alexander Gurwitsch (São Petesburgo) e Paul Weiss (Viena) demonstraram que a explicação da biologia clássica baseada na transmissão genética não é suficiente para explicar a evolução da vida; eles integraram a teoria dos campos de força, chamando a atenção para a existência de outros campos, assim como da gravitação e do eletromagnetismo.
O embriologista britânico C. H. Waddington, da Universidade de Edinburgo, empregou o termo "creode" para dar significado ao caminho evolutivo direcionado a uma meta. Ele explica que essa meta é um atrator que permite informação e energia convergirem e isso, por sua vez, cria a sua manifestação ou materialização.
Foi nessa época que iniciou o trabalho de Rupert Sheldrake de estudar, elaborar e ampliar a idéia do campo morfogenético, estendendo-o da biologia para muitas outras áreas incluindo Interação Social, Economia e Psicologia, e propôs que esses fenômenos sejam referidos como campos mórficos.
Mas vamos retornar à nossa Constelação Familiar. Durante uma constelação, ocorrem os seguintes tipos de fenômenos com os representantes: eles manifestam um conhecimento preciso de fatos detalhados da família do cliente, até então desconhecidos, que são verificados posteriormente pelo cliente após falar com as pessoas próximas ou parentes. Eu menciono aqui que nós não estamos lidando com uma comunicação mediúnica espírita e que esse fenômeno ocorre praticamente durante todo o tempo em uma Constelação Familiar. Nós podemos nos perguntar: se existe um campo mórfico familiar e um sistema familiar (que psicólogos Jungianos poderiam se referir como "inconsciente coletivo ou familiar"), como se manifestam as informações sensoriais, emocionais e cognitivas nas pessoas pertencendo ao novo sistema representativo constelado?
Do nosso ponto de vista, somente as teorias quânticas e suas aplicações em campos podem hoje nos prover de algumas respostas e hipóteses satisfatórias a essa questão. Nós retornaremos a isso na seção final do artigo.
Mas primeiro, precisamos examinar outra questão que requer explicações que são fornecidas pela biologia genética, psicologia sistêmica e genealogia: quais são os diferentes "elementos de informação" transmitidos em um sistema familiar?
Em um nível biológico - e isso não é mais um mistério para ninguém - a transmissão ocorrem através de nossos genes.
Em um nível psicológico, ela ocorre primeiramente através de comportamentos baseados em relacionamentos, observação e imitação. Nós hoje sabemos que além das contribuições genéticas da mãe e do pai, o embrião, através de sua relação simbiótica com a mãe (iniciada na concepção e presente durante toda a gravidez), é positiva ou negativamente influenciado não apenas pela fisiologia da mãe, mas também por sua vida emocional. Isso é seguido posteriormente pelo período de educação e condicionamento.
Conhecer o funcionamento dos "neurônios espelho" nos traz luz não apenas aos processos de aprendizado e imitação, e consequentemente no desenvolvimento da inteligência, mas também nos fenômenos misteriosos das percepções dos representantes, que sempre estão conectadas a "movimentos" de uma natureza corporal, sensorial, emocional ou intelectual. Esses movimentos são necessariamente provocados pela informação. E essa informação pode apenas ter a sua fonte no campo familiar morfo-sistêmico representado, que está em ressonância simultaneamente com o problema apresentado pelo cliente e com o seu sistema familiar. Os neurônios espelho refletem ou "espelham" essa informação nos centros visuais do cérebro e a comunicam instantaneamente e imediatamente (etimologicamente, "sem intermediários") ao centro motor dos representantes. A constelação então se torna a materialização, a manifestação da evolução passada e do estado atual do sistema familiar do cliente.
Rupert Sheldrake, após presenciar as Constelações Familiares, expressou sua admiração ao ver, pela primeira vez, a manifestação dos campos mórficos em ação diante de seus próprios olhos
Um dos descobridores dos neurônios espelho e professor do Departamento de Neurociência da Universidade de Parma, Giacomo Rizzolatti descreve certas funções essenciais desses neurônios espelhos. Sua principal característica é que eles são ativados quando nós executamos uma ação ou quando a observamos uma ação executada por outra pessoa. Eles são um mecanismo que projetam a descrição da ação, localizada nas zonas visuais complexas do cérebro, até os lobos motores. Esse também é o mecanismo que permite o entendimento da ação e a possibilidade de imitá-la posteriormente. Isso significa que os neurônios espelho nos permitem ver o que a outra pessoa está fazendo e entender o porquê disso (ou seja, sua intenção), antes de nós imitarmos a ação. Eles então nos possibilitam a não apenas reconhecer uma ação, mas também prever a próxima ação ou, em outras palavras, reconhecer a intenção. Pesquisas mais recentes demonstraram que esses mecanismos de neurônios espelho também são ativados na "empatia", que é definida como a capacidade de sentir a mesma sensação, o mesmo sentimento ou a mesma emoção que outra pessoa.
Oportunamente, esses mecanismos também confirmaram a tese das origens gestuais da linguagem; a palavra falada nasceu da linguagem dos gestos e não de gritos de animais, que foi a opinião prevalecente antes do trabalho de Condillac. Movimentos e gestos, reconhecidos como mensagens arcaicas, são entendidos pelo observador sem nenhuma necessidade de comunicação verbal através da ação dos neurônios espelho. No contexto das Constelações Familiares, isso explica a importância e efetividade das colocações, recolocações e outros movimentos simbólicos condizentes com essa forma de comunicação arcaica que é imediatamente entendida pelos representantes. Também nos permite explicar as transformações praticamente instantâneas dos estados emocionais dos representantes durante uma constelação.
Para psicólogos, psiquiatras e psicoterapeutas, o estudo dos neurônios espelho também oferece uma nova contribuição ao entendimento de certas patologias mentais sérias como autismo e esquizofrenia, que - no caso do autismo - se fundamente na falta de empatia, conectada com uma deficiência no sistema de neurônios espelho, de forma que a seriedade da patologia é proporcional ao grau dessa deficiência.
O conhecimento dos neurônios espelho também nos ajudam a entender a importância do relacionamento mãe-filho e que a qualidade desse relacionamento condiciona o desenvolvimento da criança; de fato, não apenas a própria mãe é refletida na psique da criança mas também o seu próprio relacionamento com seus pais, ancestrais, irmãos e, naturalmente, o pai da criança (identificação freudiana).
Durante as Constelações Familiares, outro fenômeno ocorre: quando o mediador pergunta ao cliente para escolher os representantes para os membros de seu sistema familiar, o cliente geralmente (e inconscientemente) escolhe pessoas que têm o mesmo tipo de questão das pessoas que elas irão representar, apesar do fato de que o cliente não conhece nada das vidas dos representantes que escolheu. Talvez isso sirva como mais um exemplo dos mecanismos gestuais e emocionais dos neurônios espelho.




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